segunda-feira, dezembro 31, 2007

A queimar os últimos cartuchos I


A contagem decrescente já começou, queimamos os últimos cartuchos de 2007. Depois do balanço e da definição de projectos segue-se a inevitável preparação daquele segundo que fará toda a diferença na nossa vida a curto prazo, ou seja, no momento da passagem crê-se que tudo dependerá da côr da cueca ou da nota de 500 euros no bolso. Eis as superstições pelas quais tantos milhares se deixam influenciar:
- fazer barulho - o ano deve ser recebido com enorme alarido;
- para um ano cheio de amor - estrear umas cuecas, vestir vermelho (atraente de paixões) e dar o primeiro beijo do novo ano a uma pessoa do sexo oposto. Se comer ostras terá um ano cheio de sexo;
- para o emprego - vestir castanho;
- para ter dinheiro - uma peça de roupa amarela, uma nota no sapato, atirar moedas e notas ao ar. Se sentir comichão na mão direita é porque vai ser um ano endinheirado, se não tiver, fica para o ano. Deve evitar roupas apertadas porque dificultará a entrada de dinheiro nos bolsos. Coma chocolate , diz que atrai riqueza. Chupar sete sementes de romã e guardá-lhas num guardanapo e pô-las na carteira o ano todo ou pôr folhas de louro na carteira, diz que também nos abonará de carcanhol do bom.
- para ter sorte - deve evitar ter rasgões, falta de botões e outros sinónimos... Comer ervilhas e repolho verde trará sorte. Dar três pulinhos com uma taça de champanhe na mão e atirá-lo para trás das costas é deitar o azar fora.
- coma doze passas, uma em cada badalada e peça os seus desejos.

Este ano estou decidida! Se encontrar alguém com cueca nova vermelha, roupa larga amarela e castanha, com um andar esquisito por causa do avantajado maço de notas nos sapatos, com os cantos da boca cheios de chocolate, cascas de ervilhas nos dentes e, claro está, de repolho verde, a chupar sementes de romã, enquanto engole passas, com hálito de ostras, com folhas de louro na carteira, a dar pulinhos com champanhe na mão, a atirar notas e moedas e a coçar a mão direita no joelho porque já não tem mais mãos disponíveis, já sei o que fazer: corro para trás dele, bebo o champanhe que ele despejar e apanho o dinheiro que ele espalhar. No meio de tanta palhaçada alguém precisa de ter algum bom senso e fazer alguma coisa normal. Entretanto chamo o 112 e peço que o internem.

A maior ou menor sorte do ano dependerá de nós e só de nós: da forma como levamos a nossa vida, como nos comportamos, como conduzimos os passos que damos. Azares acontecem, mas isso ninguém os prevê e raramente os consegue evitar porque são imprevisíveis. Sou contra qualquer tipo de superstição porque sei que quem se deixa limitar por coisas como estas, para além de correr o risco de fazer uma figura triste, é, antes de mais, uma pessoa limitada na sua liberdade. Comer passas por tradição, fazer barulho por piada, estrear roupa porque temos brio nessa noite e queremo-la especial, é uma coisa, mas cairmos na tentação de julgar a sorte de, neste caso, 366 dias da nossa vida no repolho verde que comemos, na cueca vermelha ou nas sementes de romã que apodrecem na nossa carteira parece-me excessivo e triste. O dinheiro ganha-se trabalhando e poupando. O amor é cuidando e tratando de nós e dos outros. Entrem cheios de alegria, mas entrem livres, mesmo que cumprindo tradições, mas livres.
Bom ano de 2008 =)

domingo, dezembro 30, 2007

A queimar os últimos cartuchos II



Depois da paragem para balanço vem a lista de desejos e projectos a concretizar no ano que nos espera. Uns prometem não voltar a fumar, outros comprometem-se a estudar mais, a trabalhar mais, a beber menos, a ganhar juízo, a deixar a vida boémia, a prestar mais atenção aos filhos ou a fazer a cama todos os dias. O simples facto de admitirmos que há coisas que não estão bem nas nossas vidas já é um excelente princípio, é porque temos consciência deles e portanto estamos no bom caminho para limarmos as nossas arestas e nos esforçarmos por um amanhã do qual nos orgulhemos cada vez mais. O problema são as promessas que caem por terra mal passa o ano. A ressaca trata de pôr o cérebro na estaca zero e a amnésia é tal que ainda nem acabou a dor de cabeça e já andamos nas asneiradas outra vez. Projectos: sim, desejos: sim, mas concretos. Devemos pensar nestas coisas com realidade, com os pés na terra, só assim chegaremos a bom porto. Poucas coisas há mais doces que a realização de qualquer coisa que tenhamos idealizado, a concretização de um sonho ou colaborarmos na concretização do sonho de alguém. Nas doze badaladas, não se se um, se dois, se três, se doze desejos, não importa a quantidade, importa aquilo que cada desejo trará de bom se realizado.

Há tempos comentava optimista que o próximo ano só pode ser bom, é um ano especial que nos dá mais um dia que os habituais por ser bisexto. Mais um dia para viver. Respondia-me esta pessoa que só temia que este fosse mais um dia para sofrer. Não sabemos o que nos espera, mas porque não vale nunca a pena sofrer por antecipação, há que passar o ano com um sorriso enorme e contagiante e com o pensamento firme de que ele nos reserva o melhor que nunca antes nenhum outro nos reservou.

sábado, dezembro 29, 2007

A queimar os últimos cartuchos III


O calendário não poupa ninguém e o tempo voa a uma velocidade estonteante. Quando menos esperamos já as semanas se sobrepuseram aos meses e estes acabam dando lugar aos anos. É normal e bom sinal: andamos entretidos na nossa vida, a fazer por ela e isso não tem nada de mal, bem pelo contrário. A contagem decrescente até ao final do ano leva-nos à reflexão. Muitos gostam de fazer o balanço do ano, pesam os pontos altos e baixos, o que pode ser melhorado, o que não tem (aparentemente) solução e porquê. Uns procuram resolver os assuntos que deixaram pendentes, os bancos atulham-se de pessoas que querem saber a quantas andam, quanto lhes rendeu o ano, que plafon têm disponível para as loucuras da noite 31. A cabeça enche-se de pensamentos quando nos abstraímos de tudo, acho que esta época festiva é das poucas alturas em que nos permitimos parar. Às vezes andamos à deriva, sem rumo, sabemo-lo e deixamos andar. É mais confortável enfiarmos a carapuça até ao umbigo do que arregaçarmos as mãos e mexermos naquilo que não está bem nas nossas vidas. Mas esta altura é diferente. Por superstição ou por outra razão qualquer, ninguém deseja começar um novo ano sem saber muito bem para onde vai ou para onde deseja ir. Este é um passo fundamental, é o princípio de uma mudança que há muito se adiava por falta de coragem ou por comodismo.

Não sou excepção. Também eu já fiz a retrospectiva do meu ano e resumo-o a quatro acontecimentos que marcaram 2007 para mim. Na história da minha vida, na minha cronologia, 2007 é o ano de dois acontecimentos muito maus e dois excelentes. A perda de dois elementos por quem nutria um enorme carinho e a conquista de duas das melhores coisas da minha vida: a minha cara metade e o emprego dos meus sonhos. Se me sinto hoje tão feliz e realizada é em muito graças a estas duas surpresas que trouxeram uma nova cor e um outro sabor aos meus dias. Termino o ano de sorriso rasgado e com o coração cheio de esperança.

sexta-feira, dezembro 28, 2007

Retratos II


As fotografias imortalizam momentos. Nelas impedimos que a ideia de que tudo é efémero e que acaba por cair no esquecimento seja verdade. As caras mantêm-se jovens, bonitas, os sorrisos não abdicam de ficarem estampados nem por nada, os olhares brilhantes contagiam-nos quando os revemos. Hoje com a fotografia digital enchemos cartões, cds, dvds com estes instantes da vida. Tiramos centenas de fotografias de todas as maneiras e feitios à procura daquela que nos tocará de uma maneira especial e que achemos seja merecedora de uma moldura, mereça sair da máquina, do cd que a prende, do cartão que a atrofia e possa respirar no mundo dos vivos, no mundo dos que para ela todos os dias olharão porque ela fará questão de marcar a sua presença no nosso quotidiano. Nessa troca de olhares entre a fotografia e aquele que por ela se cruzou dão-se uns milésimos de segundo de silêncio e contemplação que só a eles pertence. As imagens que passam como flashs sintetizam o essencial. Terminado este momento com um sorriso nada forçado, cada um segue com a sua vida, sabendo que no final do dia voltarão a cruzar-se. É bom deixarmo-nos encantar por aquela caixinha mágica que nos agarra sempre que quisermos e agarrará os que nos são mais queridos. Dias, meses, anos, décadas mais tarde nada é demais, tudo parece pouco para nos ajudar a retratar o que já vivemos com a máxima fidelidade, quem o partilhou connosco, como éramos, como nos vestíamos, como nos penteávamos, a história que estava por detrás de cada ruga, de cada sorriso, de cara cicatriz. É impossível não olharmos para as fotografias mais antigas sem nos vermos invadidos por tudo o que já fomos. Algumas trarão algum sofrimento, alguma tristeza, mas não deixam de ser marcos que fizeram de nós o que somos actualmente. Estamos, vivemos marcados por elas. Uma fotografia, um retrato: uma compactada miniatura de sentimentos e o tornarmos imortal o que julgamos fugaz.

quinta-feira, dezembro 27, 2007

Piropos


És tudo o que uma mãe pode desejar para o seu filho.

quarta-feira, dezembro 26, 2007

Retrato


Mulher de perfil, com atitude firme, revela personalidade forte e marcada. Olhos fechados que me fazem pensar naquilo que poderá estar a passar pela sua cabeça, que memórias esconde por detrás das suas pálpebras, que verdades esconde esse olhar que viu e registou. Boca semi-aberta, mas totalmente irresistível, aquilo que ela promete não lembra a ninguém, nem ao mais audaz, ao mais criativo ou ao mais atrevido. É enorme o caminho que distancia o pensamento da sensação e não há nada que substitua o arrepio que esses lábios provocam ao suavemente percorrerem a minha pele. O pescoço meio nú, meio vestido pelos seus cabelos soltos é uma arca de tesouros inesgotável. Todos os dias se encontram novas peças de arte, diamantes brutos que me cabem a mim lapidar, domar, dar a forma que melhor se adapte àquele pescoço que merece os mais belos e diversos ornamentos. Todos os momentos agarrado a ele são uma lufada de ar fresco, seguida de um corte de respiração que necessariamente culmina numa respiração boca a boca. Adoro a medicina tradicional. Do pescoço ao peito é um pulinho. Sem dar conta já o tomei nas minhas mãos e sinto-me tentado a desejar tê-lo para sempre, quero adoptá-lo como confidente nos dias maus, encosto no cansaço e amparo no desespero. Como um melhor amigo que se tem e se preserva, assim os quero na minha vida. A cintura fina é abraçada fortemente pelos meus braços que a esborracham contra mim. Num ápice sinto o onda de calor que me atropela, alivio o abraço, mas torno a apertá-la como se assim a pudesse prender para a eternidade. Posso ser hoje dono daquela que me invadiu por dentro e por fora, pode ser ela hoje a certeza do meu amanhã, mas isso só é possível porque o queremos e porque no pleno uso das nossas faculdades mentais e livres de tudo o que nos possa limitar, percebemos e decidimos que juntos a vida será aquilo que fizermos dela. Dir-me-ão que com uma mulher assim tudo é fácil e todo o homem se imagina feliz com tal parceira. É bem verdade o que dizem, só que este é o retrato que melhor exprime aquilo que ela é por dentro.

segunda-feira, dezembro 24, 2007

At Christmas you tell the truth


Sei que já postei este video, mas não resisto a fazê-lo novamente por razões que acredito compreensíveis. A propósito fica o desafio: o filme vai passar amanhã na televisão portuguesa, escusado será dizer que acho que vale o investimento...

All I want for Christmas is everything I have


São conhecidos e mais do que batidos os vários desejos de boas festas que são desejados nesta época. Naturalmente subscrevo todos, mas apetece-me acrescentar mais uma meia dúzia. Espero que a concórdia e a verdade sejam uma realidade durante todos os dias das vossas vidas. Quero que o Natal não seja uma data de obrigatoriedades e fretes, mas apenas o confirmar daquilo que se construiu durante um ano inteiro. Acredito que as prendas que se compram são a pensar nas pessoas que escolhemos para prendar e não apenas um cumprir de uma tradição inútil e sem sentido. Eu assim o fiz. Fiz por estar com aqueles que me são mais especiais pessoalmente, presenteei os que me são mais próximos e mais amo, com aquilo que sentia que os faria mais felizes e hoje e amanhã estou com a família mais próxima. Sinto-me privilegiada porque passo um Natal com tudo o que mais desejo: saúde, uma casa cheia, um coração realizado, uma árvore farta, uma mesa cheia e um Menino Jesus que me deu isto tudo e muito mais e que, mais uma vez, espero permitir que nasça dentro de mim! Feliz Natal para todos...

domingo, dezembro 23, 2007

sábado, dezembro 22, 2007

Saber o que se quer


- Só as crianças é que sabem do que andam à procura - disse o principezinho. - São capazes de perder tempo com uma boneca de trapos que, por isso, passa a ser muito importante para elas. Se alguém lha tira, desatam a chorar...
- Que sorte que as crianças têm! - disse o agulheiro.
Antoine de Saint-Exupéry

sexta-feira, dezembro 21, 2007

Escultura


Esculpida pelo melhor escultor do mundo esta interessante peça de arte rara, e a poucos acessível, encontra-se estranhamente disponível a um preço acessível a qualquer bolsa. Pela módica quantia de uma promessa de bom tratamento, de uma intensa dedicação de carícias e de uma jura de amor eterno, esta relíquia pode ser sua. Naturalmente vários virão ao encontro deste achado, por isso os interessados serão sujeitos a intensos testes de averiguação das verdades que proferirem, para que a mais conceituada e exigente das juízas possa dar o seu parecer e possa disponibilizar aquilo que tanto desejam.

Estas formas foram cuidadosamente desenhadas e posteriormente esculpidas. A matéria de que é feita é suave e macia, agradável ao toque e sensível ao toque. Pode despertar outras sensações e apetites, não menos interessantes.

Se se sente interessado não deixe escapar esta oportunidade única. Aposte naquilo que vale a pena e ainda se habilita à possibilidade de uma vida duradoura e feliz ao lado daquela que pode ter sido criada para si.
*Concurso disponível para indivíduos do sexo masculino, solteiros e bons rapazes.

quinta-feira, dezembro 20, 2007

Merry Christmas!!!

Enquanto não há amanhã

Esta noite fui visitado por uma fada madrinha que me disse que a mulher ideal existe. Fiquei estupefacto a olhar para ela, não a queria julgar, muito menos queria duvidar da sua palavra, mas as coisas têm de ser esclarecidas. Em criança, era rapaz traquina e pouco ligava às miúdas porque o homem aranha parecia-me bem mais interessante que aquelas brincadeiras irritantes às famílias, mas se alguém me perguntasse no meu íntimo se acreditava na mulher ideal, talvez fosse capaz de dar a mão à palmatória e assumir que sim. Uns anos mais tarde, já me dedicava aos amassos atrás dos pavilhões e percebi que afinal estas coisas das raparigas são mais complexas que aquilo que eu inicialmente julgava. Eram umas queridas e eu adorava estar ali com a anatomia feminina toda nas minhas mãos, eram autênticas aulas práticas das ciências da natureza, aprendi imenso, mas depois metiam-se sentimentos, ciúmes, confusões, amigas e até ser capaz de gerir estas baralhações todas ainda percorri um caminho algo doloroso. Agora que já estava convencido da imperfeição humana, da impossibilidade de me cruzar com alguém especial, acima da média, detentor de todas as verdades e qualidades do mundo, vem esta personagem pôr tudo em causa outra vez? Tive vontade de me virar a ela dizer-lhe uma meia dúzia de coisas menos afáveis, na esperança de que desmentisse o que havia afirmado e me deixasse em paz. Não o fiz, preferi pedir-lhe explicações, não fosse ela ter razão e eu até ter acesso a esta pessoa. Mexeu os cordelinhos e mostrou-me através de imagens passageiras quem esta mulher era, mas o seu rosto nunca me aparecia definido na cabeça. Queria vê-la para podê-la reconhecer na rua de imediato e agarra-la para sempre. Isso nunca aconteceu. Levantei-me e bati-lhe, estava irritado com aquela situação e já me sentia um palhaço nas suas mãos. Ela olhou-me com tristeza e desapareceu. Não fiquei nada satisfeito com a minha atitude, mas às vezes não consigo controlar a minha impulsividade, reajo sem pensar. Nesse preciso momento vieram-me à ideia todas as raparigas que já tinham passado pela minha vida e que, por alguma razão, também elas desapareceram, como fui eu que tratei de as pôr bem longe só porque sim e porque não. Algumas bem o mereceram, serviram para o que tinham a servir, foi bom, obrigado, mas agora quero-as o mais longe possível. Ocorreu-me a terrível ideia de já ter sido visitado por esta pessoa e de a ter deixado escapar. Nesse instante sou novamente visitado por esta fada irritante, vinha com um saco de gelo na cara e com algum mau aspecto. Olhei-a de lado, senti alguma pena por assistir àquele triste espectáculo, mas fiz questão de mostrar o meu desprezo. Só me disse ainda vais a tempo e volta a sumir-se no infinito. Acordei sozinho e lavado em lágrimas, como só podia estar...

terça-feira, dezembro 18, 2007

Quatro mulheres e um centro comercial


Acabam as aulas, mas começam as reuniões umas atrás das outras e a correria de um lado para o outro. Aglomeram-se jantares e almoços de Natal que pretendem reunir antigos amigos que há muito não se vêem ou apenas para fazer a graça de juntar quem convive diariamente e quer um encontro mais informal, onde se proporcionem outras conversas, onde as pessoas se dêem a conhecer. A minha semana reparte-se nisto mesmo.

Ontem terminada a última reunião, sobrava algum tempo antes do jantar de colegas. Alguém propõe que se faça o compasso de espera num centro comercial, sempre se viam umas lojas e as senhoras, por norma, apreciam este tipo de entretenimento. Lá fomos um grupinho de meninas. Há algum tempo que não tinha uma experiência no feminino tão intensa. Naturalmente procuraram-se lojas de roupa, acessórios, malas e vernizes. Visitaram-se lojas de lingerie, mas as mais procuradas eram as ourivesarias em busca de aneis de noivado e alianças. Viam-se, escolhiam-se, comparavam-se preços. Nunca me tinha acontecido nada semelhante, mas pensei para comigo: de facto não somos assim tão diferentes umas das outras e há coisas que só podem estar na nossa natureza, ou melhor, na nossa educação, mas uma coisa é certa, façamos o que fizermos sentimos que a nossa felicidade depende de certos rituais, passa por determinados passos que se dão, opções que se fazem. Nada mais é que o culminar de uma infância de filmes, de estórias encantadas, de telenovelas e o presenciar de outros que conseguiram concretizar estes sonhos. Foi um tempo simpático este, de conversas engraçadas, de momentos divertidos, de reencontro com o universo feminino. Ao contrário do que se pode pensar não se fala de homens, não se critica, apenas se louva a alegria de sermos mulheres e de que o querermos ser cada vez mais.

domingo, dezembro 16, 2007

Partilha

A vida a dois é tão bonita, tão especial. Sinto que as pessoas que se conseguem abandonar uma à outra e se transformam numa só, sem, naturalmente, perderem a sua individualidade, experimentam já o paraíso na terra. Olharmos para o lado e sabermos com o que podemos contar, estendermos a mão e sabermos que será agarrada, deixarmos cair a lágrima que será amparada por aquele alguém.

Na vida a dois temos a partilha da vida, do mundo, do momento e do amanhã. Nada é imposto, nada é obrigatório, tudo é gratuito. Tudo o que fazemos é porque queremos, parte de nós, fazemos por gosto, com gosto, com brio. Em mente temos o nosso próprio bem estar, temos a alegria e a realização da nossa cara metade. Acredito que assim os dias são mais felizes e as noites mais tranquilas. É a serenidade dos amantes envoltos em aveludados tecidos raros, que partilham o farto banquete das delícias que aparenta estar ao alcance de todos, mas só está eternamente reservado àqueles que o merecem. Eu quero-o para mim.

sexta-feira, dezembro 14, 2007

Momentos

Poucas alegrias há maiores que esta. Nada é comparável ao dom da vida. É de facto o milagre mais extraordinário ao qual assistimos e que raramente o vemos como tal. Que bom que é saber que ele é possível e real. Que bom que é depararmo-nos com momentos como este, que nos fazem esquecer desgraças e nos preenchem o coração de alegria e esperança.

quarta-feira, dezembro 12, 2007

(Não) Viver (Não) Pensar


Não sei se pense, se viva. Se viva evitando pensar, se pense evitando viver. Se viva pensamendo ou pense vivendo. Se vivendo pense ou pensamento viva. Talvez seja possível pensar e viver, sem que uma anule a outra, ou quem sabe consiga o impossível de não fazer uma coisa ou outra. Uma coisa é certa: muito deixamos de fazer, muito deixamos de viver, muito deixamos de sentir ou impedimos que aconteça porque pensámos em demasia. Não sei se pior, mas pelo menos igualmente mau, muito sofremos por antecipação, que nunca sequer chegou a acontecer nem de perto, nem de longe, só porque pensámos e deixámos que este pensamento tomasse conta de nós acabando com a nossa paz interior. Contudo viver sem pensar, pode nem sempre ser a solução. Ocorre-nos sempre a ideia da desilusão, daquilo que não se conseguiu evitar porque não nos dedicámos o que devíamos ao assunto. Chego à conclusão do costume: não sei, mas também não estou demasiado preocupada com o assunto. A pouca experiência de vida que tenho trouxe-me já algumas certezas, uma delas é a e que no final tudo se resolve e o bom da fita ganha sempre como nos contam as histórias de encantar. A vitória do mau é sempre temporária, provisória, aparente.

terça-feira, dezembro 11, 2007

A fonte do saber


A fonte da sabedoria? Aquilo que detem todo o saber? O poço dos saberes? O cúmulo das ideias, interpretações e análises? A nascente de onde brotam as certezas absolutas e as verdades inquestionáveis? O livro da vida que explicita o culminar de toda uma experiência? A lucidez? A clareza? A exactidão? A génese? A origem?

Não sei onde está. Também não sei se quero saber. Gostava de me encontrar com quem me pudesse tocar com aquilo a que já sobreviveu, me abrisse os olhos no dia em que por vontade própria eu os deixasse fechar, me mandasse um encontrão quando eu fosse descaradamente pôr o pé na poça, me desse o estalo que me acalmasse no dia da esteria e do descontrolo. É bom termos quem nos abane. Sempre fui da opinião de que esta passagem por cá é mais difícil quando nos vemos sozinhos e isto porque há tanta coisa que nos passa ao lado e que alguém nos pode mostrar. Assim só podemos ser pessoas melhores. E esse livro dos insaciáveis também não é para mim. Quero que os meus olhos, que os meus lábios, que o meu corpo, que o meu tacto, que o meu pensamento sejam desafiados e desafiem. Só assim passarei dos livros à prática, da conversa ao acto, da teoria à vida.

segunda-feira, dezembro 10, 2007

Destacados


Destacados de entre a multidão. Poucos se destacam, mas esses não nos passam despercebidos, vemo-los, sentimo-nos, somos por eles contagiados. Há diferenças que valem a pena.

sexta-feira, dezembro 07, 2007

Linda


Olá boneca, bom dia. Estás mais deslumbrante do que nunca. Sei que os nossos olhos não vêem o mesmo, que os pormenores que me saltam à vista, passam-te ao lado, que não valorizamos as mesmas coisas. Mas hoje, pela primeira vez, falámos a mesma língua, sem sequer proferirmos palavra. Achaste-te perfeita e isso é o princípio de um futuro que certamente se avizinha risonho. E eu não quero deixar de estar ao lado. Nunca.

quinta-feira, dezembro 06, 2007

Dodói


Conheço uma pessoa que está de castigo. Não se portou mal, não foi mal educada, comeu a sopa toda, mas um jeito mal dado atirou-a para um sossego que ela não desejava. A vida correria, o tempo voava, os desafios aconteciam e ela sentia-se ali presa à dor que sentia que a impedia de correr atrás das borboletas, rodopiar sobre si mesma, saltar e pular o mais alto que podia. Diz o ditado que o que não tem remédio, remediado está. Abraçou o seu fiel companheiro e juntos foram para o sofá ver filmes, comer pipocas e rir até doer a barriga. Importa que cada segundo na vida seja vivido, com maior ou menor intensidade, como pudermos, mas sempre aproveitado.

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Gestos


Há gestos falantes, marcados segredos que acabam em suspiros mansos. São calados desejos, minuciosamente pensados, mas raramente denunciados. Os trambolhões esquecidos já não nos visitam e, se o fazem, é às escondidas, na calada da noite, onde todos se abandonaram ao relaxe do corpo, ao descanso da mente. A timidez dos gestos revela a genuidade dos corações, a gratuidade dos passos, a frontalidade dos amantes. Quem ama só quer bem e, por isso, entrega ao outro tudo o que pode, marca a diferença de entre os comuns mortais porque ambos estão marcados pelo que de melhor há no mundo e são privilegiados porque se encontraram na hora certa, no sítio certo, na altura certa das suas vidas. As poucas coincidências e os nulos acasos da vida, que apesar de tudo por vezes nos tenta fazer crer que sim, que existem, que fazem parte do percurso, preparam-nos para o mais farto dos banquetes, o mais doce dos manjares, mas somente no dia em que estivermos preparados para o comermos e o apreciarmos como ele merece. Até lá trilhamos os caminhos tropeçados, sobrevivemos às areias movediças, deslizamos por pantanos lamacentos. Mas no final da caminhada vemo-nos sujos e mal cheirosos. É aí que nos cai sobre a testa a chuva intensa, mas revitalizadora que culmina num raiar de sol abrasador que nos seca num ápice e nos perfuma a primavera. Quando abrimos os olhos temos uma flor que nos é entregue com um sorriso. Lentamente estendemos a mão, ainda a medo, para a acolher e abrimos o coração para o der e vier.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Endiabrada


Tenho o diabo no corpo. E agora?

domingo, dezembro 02, 2007

No final do dia


Um dia perfeito. Conversas amenas. Luzes de Natal. Uma paz inexplicável. Um jantar a gosto. Um abraço quente. Uma palavra sincera. Um beijo de boa noite. Um regresso a casa. Um sorriso nos lábios. Uma doce sensação que nos embala até à cama com uma terna certeza de que tudo valeu a pena. E que bom que foi.

sábado, dezembro 01, 2007

Este fim de semana

http://www.fcsh.unl.pt/cadeiras/ciberjornalismo/ciber2000/voluntariado/Imagens/ba.jpg

Não custa ajudar e podemos contribuir para acabar com a fome no nosso país.

quinta-feira, novembro 29, 2007

Enquanto dormias


Olhei-te séria enquanto dormias. Estavas tão lindo que quis eternizar o momento. A tranquilidade que transmitias nessa posição em que abandonaste o nosso mundo presente para te entregares aos sonhos cor-de-rosa. Mereces estar nesse bocadinho de paraíso, onde todos os desejos se concretizam e onde ninguém nos faz mal. Como sei que não te encontras no meio de um pesadelo a preto e branco? É fácil. Nenhum monstro mau se atreveria a meter-se com uma criança tão querida quanto tu e nem eu o deixaria. Eu filtro os teus visitantes nocturnos, como a um bom porteiro compete.
- Onde vai? O que deseja? O que traz consigo?
E só dou autorização de passagem às mais belas fadas madrinhas, ursos de peluche, bolas de algodão doce e gominhass gelatinosas que te dão os mais saborosos beijos melados. O teu ligeiro sorrido denuncia as maravilhas que estás a viver. É por isso que tiro esta fotografia, para que amanhã, já homem feito, a possas recordar e, por breves instantes, revivas o quanto foste feliz enquanto dormias...

quarta-feira, novembro 28, 2007

O MEU MARIDO



A expressão o meu marido, se analisada com cuidado, não só daria para uma excelente reflexão, como bem trabalhadinha até para uma qualquer tese sobre o assunto. A frase é a mesma, não muda, não tem de mudar, nem tem como mudar. Muda, e muito, é a entoação com que esta é proferida, as vezes em que é feita, os motivos que a evocam e o público alvo. Com naturalidade numa conversa trazemos aqueles que nos são mais queridos por variadíssimas razões, temos prazer e orgulho em falarmos sobre eles. A diferença reside em dizer-se no outro dia o meu marido chegou atrasado ao emprego ou o meu marido ligou-me para saber se eu estava bem porque passei mal a noite e dizer-se no outro dia O MEU MARIDO ligou-me porque passei mal a noite, ou ainda, O mEu MaRiDo fez isto e aquilo, o MeU mArIdO, o MEU marido, O meu MARIDO e por aí em diante. Nalguns casos mais gritantes os olhares femininos cruzam-se de imediato, nalgum tom de crítica, muito subtil como é costumes entre senhoras. A feliz contemplada com UM MARIDO fê-lo saber, a alto e bom som, para que não restassem dúvidas entre as presentes, as que por acaso passavam, as que estavam no corredor e as do andar de cima. Aquela senhora era uma premiada, foi importante sabê-lo.

Outros casos, não menos interessantes, são os daquelas que, por alguma razão, não viram oficializado o seu enlace e, por isso, estão juntas, amantizadas, em união de facto, ainda em fase de namoro prolongado, mas por acaso já a partilhar a vida. São várias as formas existentes para descrever a situação actual do casal, eu gosto particularmente do sou junta, não sou casada. Uma vez não tendo sido proferidas sobre as suas cabeças as palavras declaro-vos marido e mulher, principalmente a mulher, vê-se um bocado às aranhas quando se quer referir à sua cara metade. Ele não é meu marido porque não casámos, defendem-se algumas quando se nos escapa um então, como está o teu marido? Nestes casos são também curiosos os nomes por que são chamados: o meu companheiro, o meu namorado, o meu parceiro, qualquer coisa menos o meu marido.

Os homens para além de não complicarem tanto por Natureza neste tipo de coisas, têm a vida duplamente facilitada porque a minha mulher para aqui, a minha mulher para ali não ofende a ninguém e está o assunto resolvido. E é muito interessante porque não me recordo de nenhum episódio em que A MINHA MULHER alguma vez tenha sido efectivamente dito, com a intenção com que uma mulher o pode dizer.

São, de facto, dois mundos muito diferentes nalgumas coisas. Acho que parceiro, marido ou namorado importa é que as pessoas sejam felizes. Se se encontraram, que façam por perpectuar os compromissos que assumiram, com lealdade e, também, um pouco de humildade.

segunda-feira, novembro 26, 2007

Jantar


Só pus a mesa a contar comigo hoje. O jantar é mais pobre, a casa está fria, o teu lugar está vago. As loiças fui buscá-las ao armário que raramente é aberto. Quis fazer especial este momento, já que a solidão ninguém ma tira.

domingo, novembro 25, 2007

Perspectivas II

- Quando olho para esta imagem realça-me logo a bonita pulseira que ela traz. Acho um pormenor fenomenal, não concordas?
- Sim, claro.
- Acho muito importante a cor dos olhos e o cabelo esticado. Assim, caído sobre os ombros fica muito bem, o que dizes?
- Sim, pois...
- Está um bonito retrato, ela certamente ficou muito satisfeita com o resultado final. É uma fotografia da qual se deve orgulhar, não achas?
- Sim, acho.
- E tu? Não dizes nada? Não comentas? Só concordas?
- Sinceramente? Vejo uma gaja boa, um olhar provocador e um fio dental. Não consigo ver muito mais do que isto. E só tenho pena que não seja tua amiga porque faria muito gosto em fazer parte do seu círculo de amizades. Desculpa se estou a ser demasiado redutor, mas tu é que perguntaste.

sexta-feira, novembro 23, 2007

Vá lá


Está bem, não peças mais que não a pena, já me convenceste. Sabes que acho deliciosa a forma como levas a água ao teu moinho. Acho incrível a maneira como me deixo seduzir por ti, mas tem valido muito a pena, fá-lo-ei sempre e todos os dias porque só para ter o teu sorriso rasgado, tudo é válido. Pede que eu dou, mas com carinho...

quinta-feira, novembro 22, 2007

quarta-feira, novembro 21, 2007

Leva-me daqui


Esta noite sonhei que me levavam para bem longe daqui. Não sei para onde me levavam, não sei quem me levava, só sei que sentia uma enorme confiança, sentia-me segura. Não fiz perguntas, não inventei desculpas ou me precipitei em disparates. Deixei que a oportunidade tomasse conta de mim e que a sensação de aventura me guiasse a um lugar desconhecido que eu pressentia confortável. Deixei que o vento batesse suavemente no meu rosto, as minhas tranças pretas voavam como os pássaros, ondulavam ligeiramente ao sabor da brisa. Sei que a expressão da minha cara era feliz, sentia-me cheia por dentro, nada mais cabia dentro do meu peito, acho que é esta a sensação de realização. Momentaneamente sentimos que nada nos fará mais felizes do que aquilo: temos tudo. Era isso que sentia nesta pequena viagem.

Sentia-me como num conto de fadas, talvez porque tenha lido muitas histórias encantadas em miúda ou me tenha deixado influenciar pelos desenhos animados e as suas histórias com finais felizes. Adoro finais felizes. Mas este passeio acabou mal. Levada por vários balões de cores garridas vi aproximar-se lentamente um pássaro azul. Sorri-lhe de imediato, queria-o comigo nesta etapa. Assobiei-lhe e ele aproximou-se. Um a um picou todos os meus balões, caí desamparada no chão. Nesta aflicção acordo com o despertador mal disposto. Malvado, foi ele que me estragou o sonho, todos os dias acorda rabugento e é em mim que descarrega. Calei-o, mas desta vez não lhe dei o murro do costume. Silenciei-o só, pode ser que amanhã ele se lembre e me acorde com outros modos.

terça-feira, novembro 20, 2007

Páginas a preto e branco


Quando no livro da tua vida encontrares uma página a preto e branco vai àquela gaveta que nunca abres, onde depositaste os lápis de côr gastos de tanto afiar, as canetas de feltro que já só borram, os restos de lápis de cera partidos que sobraram e os guaches secos e apertados e atribui-lhes as cores que mais gostares, aquelas que queres que marquem aquele dia específico que, por alguma razão, saiu descolorado. Se precisares de ajuda procura quem te dê uma mãozinha para cumprires esta tarefa com sucesso, importa que seja alguém especial, alguém que naturalmente já te ilumina só pela sua presença. A dois para além da nova côr, poder-lhe-ás dar outro sabor, outra luz. Um novo perfume à página seca do livro da tua vida.

segunda-feira, novembro 19, 2007

Tiro eu ou tiras tu?


Tiro eu ou tiras tu?
Quando se cumpre a promessa há muito feita, mas nunca dita.
Quando a vontade se instala e o momento acontece.

Tiro eu ou tiras tu?
Talvez nem seja uma pergunta relevante ou até o seja.
Talvez não seja o momento mais apropriado ou até o seja.

Tiro eu ou tiras tu?
Não esperavas a pergunta, nestas situações não se pensa.
Não sabendo o que haverias de responder, tiraste e ficou o problema resolvido.

sábado, novembro 17, 2007

Chegado o Outono


Começamos a sentir o Outono mais a sério. Começa o frio e os dias cinzentos, cada vez mais curtos, às 17h30 é de noite e a vontade de nos aconchegarmos começa cedo. As bebidas frescas são trocadas por chávenas de chás aromáticos, cafés cada vez mais sofisticados ou canecas de chocolate quente que não só nos confortam por dentro, como nos maravilham pelo seu sabor forte e intenso. Quando penso nestes serões vejo-os serenos. Na rua as pessoas caminham encolhidas, evitam parar porque quietas arrefecem muito facilmente. Aglomeram-se para que o calor que exista se concentre, procuram quem as acolha num abraço que se quer eterno. Em casa as mantas são fiéis companheiras, uma lareira acesa, uma televisão, um filme que não cansa, uma caneca na mão que apertamos com força, uma sala a meia luz, um nariz gelado. Nos meses frios do ano são momentos como estes que naturalmente procuramos, que inevitavelmente passam a fazer parte do quotidiano.

sexta-feira, novembro 16, 2007

Doce e cremosa


Hoje estavas linda. Olhava para ti e sentia-te cremosa e aveludada. És um doce raro de encontrar, és um ternura de pessoa, uma pérola cobiçada. É uma alegria ver-te passar porque a tua côr espalha-se por onde passas e a tua aura é capaz de tocar até do mais distraído. A luz que te cobre, não é muito intensa, não fere a vista ou ilumina o caminho, mas é uma luz que nos aquece por dentro, que nos conforta o coração. A tua presença é sempre desejada e por todos querida.
Estranhei que abriste a mala, olhaste lá para dentro e deixaste apagar a tua luz. Percebi que não encontraras o que desejaras. Sentiste-te sozinha e nem a multidão sorridente que te rodeava chegava para suprimir aquela falha. Largaste a mala, abriste as mãos e viste-las vazias. O terror da frieza invadia-te aos poucos e o gelo era insuportável para ti. A pastilha que mascavas perdera o sabor, o teu nariz deixara se sentir o aroma das coisas. Tudo em ti perdia o valor normal das coisas, perdias o rumo. Todos percebemos a tua angústia, um estendeu-te a mão e depositou-te no canto em que a verdade acontece e o amanhã recebe uma nova vida. É o corte com aquilo que não queres, para te reencontares com a pessoa que és e sempre serás e com o futuro com que sempre sonhaste.

quinta-feira, novembro 15, 2007

quarta-feira, novembro 14, 2007

Gajas há muitas


- Olá, bom dia! Bem disposto?
- Sim, sempre. Quer dizer... Nem por isso - percebi que não estava bem.
- Então? Algum problema?
- Não, nada que não se resolva. A minha namorada, com quem estava há três anos e meio, traiu-me.
- Epa, que chatice. - não sabia o que dizer, sentia que nada havia a dizer, nestes momentos acho que o próprio nem deseja que nada seja acrescentado. Ele quer somente desabafar o que o atormenta, largar a dor que trás.
- Acreditava que tinha a minha vida encaminhada, os planos para o futuro eram mais que muitos, a partilha da vida era já uma realidade. Tudo em vão, para acabar assim. Mas não lhe guardo qualquer rancor, é ela quem fica a perder, ela sabe disso, as suas lágrimas são só o resultado do remorso que sente pelo tudo que pôs a perder por umas horas de prazer.
- Compreendo-te bem, sabes que tenho como mote na minha vida que importa sempre a nossa consciência, nada mais, porque é com ela que teremos de viver para sempre.
- Sim, concordo. Fiz tudo o que podia, dava-lhe tudo, planeava pelo Natal oferecer-lhe o carro que ela tanto desejava ter, estava a poupar para lhe fazer essa surpresa. É estúpido não olhar para mim agora como um palhaço. Outra beneficiará do que tenho, da pessoa que sou.
- Pela forma como falas suponho que tenhas terminado a relação.
- Sim, claro. Não podia continuar com uma pessoa em quem não confio minimamente. Participei numa competição no estrangeiro e nessa temporada em que estive fora ela envolveu-se com outro homem. Na altura estranhei o seu comportamento incómodo, estranhei-a como pessoa, não te sei explicar, essas coisas sentem-se.
- Claro, entendo.
- Ela acabou por não suportar a pressão e contou-me o que se tinha passado. Estou bem e estou mal ao mesmo tempo, sinto-me esquisito.
- A tua vida mudou: mudou a tua rotina, mudaram os teus hábitos. Aquela peça certa e presente na tua vida desapareceu e com ela vai uma boa parte da tua vida, tens de te readaptar ao facto de agora estares sozinho.
- Sim, é isso mesmo. É essa a falta que sinto. Sempre soube pôr as pessoas nos seus devidos lugares, nunca dei confianças às mulheres que se aproximavam por muito irresistíveis que fossem, os meus princípios estavam e estarão sempre acima de tudo e eu acreditava que a pessoa que tinha comigo estava comigo nesta verdade. Doi-me isso. Eu sei que fraquezas, falhas todos temos e cometemos, mas não posso deixar passar uma coisa destas sob pena de pôr em causa a minha vida toda, a minha felicidade. É porque não era ela a pessoa certa para mim ou até era, não sei, nem nunca o saberei porque aquele é um capítulo terminado na minha vida. Sempre fui um livro aberto, ela tinha acesso a tudo o que era meu, sem segredos, nem tabús. Não imagino uma vida a dois com meias coisas: ou é tudo ou não é nada e ela tinha tudo meu. Dei-lhe um cartão multibanco da minha conta, ela era quem andava com o meu carro, dei-lhe uma cópia da chave da minha casa, no fim desabarmos como casal por um capricho dela. Não há nada na minha casa que não tenha sido escolhido pelos dois, prevalecendo sempre a opinião dela sobre a minha, seria também um dia a sua casa e queria que ela estivesse feliz, que sentisse que aquele espaço era tão seu quanto meu. Nada era meu, tudo era nosso. Pergunto-me se terá valido a pena.
- Entendo-te e, se me permites digo-te, valeu a pena, muito a pena, na medida em que o fazias porque amavas e nada que seja feito de amor sincero perde valor, pelo menos para o próprio, por muito mal que ele se sinta. Perde quem não valorizou o que fizeste.
- Não me assusta pensar namorar outra pessoa, só me assusta pensar e quem? Gajas há por aí com fartura, fúteis, plásticas, exuberantes. Quilos de tinta, horas de cabeleireiro, para fazerem realçar as únicas qualidades que têm. Ocas de cabeça, deslumbrantes à vista. Sabem que só nos conquistarão pelo aspecto e nisso são mestras. Não quero ninguém assim para mim, prefiro estar sozinho a deixar-me iludir por aquilo. Quero uma mulher a sério, alguém que assuma um compromisso, que me respeite e se dê ao respeito. Alguém com objectivos, metas, ambições, valores. No fundo procuro uma igual, particular na sua diferença, é certo, mas uma igual naquilo que deve de ser. Julgava tê-la encontrado. Nunca conhecemos verdadeiramente ninguém, nunca saberemos do que elas serão realmente capazes de fazer, sobre que pretextos, que razões, com que interesses. Sei que não é missão fácil, resta-me esperar.
- E vais conseguir.

Andei o dia todo a remoer cada palavra que trocámos, cada expressão do seu olhar, cada gesto. É das pessoas mais transparentes que conheço, custou-me, como acho que custa sempre um episódio destes.

terça-feira, novembro 13, 2007

Inveja é coisa feia


A inveja é uma coisa feia, mas invejo a tua forma alegre de estar na vida, o teu sorriso sempre pronto e a tua expressão satisfeita. Até nem estou a ser grande invejosa, há piores. Invejo também o teu ar saudável, a tua firmeza ao encarares o futuro e ao lembrares o passado. Bom ou mau não sei, mas vidas perfeitas ninguém as tem e a tua parece sê-lo e isso não me agrada. Invejo as tuas cores luminosas, transmitem-me vida e fazem-me pensar em vidas cor-de-rosa. Invejar é a pior coisa do mundo, Deus nos livre de tal sentimento e de tais gentes. São pessoas amarguradas, marcadas pelo ódio, incapazes de dar valor ao que têm ou conquistaram, os outros é que são bons, têm coisas boas. Até me arrepio só de pensar neste assunto. Eu não o sou, nem nunca o fui, mas esse teu olhar simpático irrita-me, gostava de ter um assim também. Escreve o que eu te digo, quando te cruzares com um invejoso já sabes, foge dele a sete pés antes que olhe para ti com o ar de cobiça com que eu te olho.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Buzinão

http://gazetaweb.globo.com/Canais/Supermaquinas/Sinalizacao/Gifs/Regulame/red37.gif

Fica a questão: a buzina do carro esgota? Se no trânsito a pressionar afincadamente como se não houvesse amanhã e não a largasse mais, ela acabaria alguma vez? Avariava? Pedia férias ou reforma antecipada? Ela alguma vez perde o pio?

domingo, novembro 11, 2007

Adivinhos


Queria ser capaz de ler nas entrelinhas, de perceber os silêncios, de entender os olhares, de acreditar nas palavras. Nem sempre o consigo e quando isso acontece volto-me para o que posso e espero que o tempo cure a angústia e traga as respostas que quero que sejam instantâneas.

sábado, novembro 10, 2007

Onde? Porquê? Para quê? Quando?

Não sei a quem já a entregaste, se já o fizeste, se já o ouviste, quantas vezes, com que frequência, porque razão, em que circunstância, como o sentiste, como o viveste, o que fizeste, como o fizeste, qual a sua consequência...
Não sei porque para alguns é tão querida e para outros tão insignificante. Uma coisa é certa: não lhe somos (acho que não podemos ser) indiferentes, sabemos que por trás desta palavra está a declaração de quem (em princípio), de coração sincero e aberto manifesta o que de mais belo e puro pode existir - o amor. Cada um que o diga de sua justiça, mas para mim é das melhores coisas do mundo.

sexta-feira, novembro 09, 2007

smoke


Se o teu perfume tivesse uma côr estou certo de que seria vermelho, cheiraria a doces morangos e enfeitiçaria quem por ti se cruzasse. Mas isso não acontece, sei que passas por mim e despertas a minha atenção e o meu desejo, somente porque passas e me tocas com a tua naturalidade. Nada em ti é artificial, tudo é único e genuíno e é na tua inocente criatividade que reside o teu segredo. Não precisas deste perfume que te queria oferecer, já o trazes contigo desde o dia em que nasceste.

quinta-feira, novembro 08, 2007

Quedas


Ontem ia a passar quando tropeço numa pedra e espalho-me ao comprido. Naturalmente entre a dor ainda mal suportada e o instinto de me refazer do susto, olho em volta na esperança de que este momento humilhante tenha sido só meu e que ninguém se tenha apercebido da minha triste sorte. Uma meia dúzia olhava-me de lado, mas sem grande intuição para me dar a mão, puxar-me para cima. Observavam a ave rara que se estendera ao comprido no meio da via pública e que, por esse razão, se não se despachara a levantar, não tarda estaria a impedir a normal circulação de transeuntes. Sentei-me no chão, olhei para as minhas calças e levanto-as na esperança de não me ter aleijado muito. Um joelho esfolado. Bem, podia sempre ser bem pior. Sentia um enorme ardor nesse joelho, já nem me lembrava do que isto era. Em miúda era hábito e sintia-me novamente como uma criança que cai ao chão e corre para os braços de alguém em busca de auxílio. Trinta anos depois a diferença é que eu não tinha a quem recorrer neste momento de aflição. Foi com alguma pena que constactei isso, é tão confortável termos um colo a que podemos recorrer para chorar, que ele absorverá cada lágrima nossa a transforma-la-á em força para suportarmos as próximas adversidades. É um bonito gesto de amor. Sozinha lá me apoiei ao que encontrei e com algum custo pus-me de pé para prosseguir o meu caminho depois desta pequena interrupção. Meia coxa lá fui convencendo o meu joelho de que magoado ou não, ele tinha mesmo de fazer esta viagem. Quando chegasse a casa lá lhe daria o tratamento necessário e a atenção merecida, mas até lá pouco ou nada mais podia fazer...

quarta-feira, novembro 07, 2007

Tu estás aí?


Posso mentir aos homens, contar-lhes aventuras, exagerar nos pormenores, oferecer promessas fáceis de dizer, mas difíceis de cumprir. Posso tudo isto e muito mais porque ninguém calará a minha boca, me amordaçará ou prenderá. Com convicção vendo as mais fantásticas estórias. Contudo não me consigo enganar a mim, nem a Deus. Somos os únicos que não nos deixamos cair na fantasia das minhas palavras. Talvez por isso a fuga à Sua existência seja bem mais confortável do que assumir a Sua omnipresença. É duro saber que o segredo das nossas fragilidades não permanece somente connosco.

terça-feira, novembro 06, 2007

Menina


Menina bonita, do olhar prometedor, não sabes o quanto me deixas sem hipótese de fuga quando de mim te aproximas.
Postura terna e tentadora, apareceste sem que desse conta e hoje não me sais do pensamento.
Palavras meias ditas, pensamentos diluídos e questões por colocar, não sei se temo a tua resposta por ser afirmativa ou negativa. Sinto-me novamente um cobarde, hoje diante da tua presença.

segunda-feira, novembro 05, 2007

Oportunidades


Agarra as oportunidades que te são oferecidas. Preserva aquelas que valem a pena. Tira das que não prestam a lição que elas tiverem para te ensinar. Acima de tudo age sempre em conformidade com a tua consciência porque é com ela que terás de viver para o resto da tua vida.

domingo, novembro 04, 2007

Quatro dias depois





Quatro dias depois fica um pequeno espreitar sobre o muito que vi e vivi. É difícil de descrever o misto de coisas que se sentem. Numa única frase afirmo que valeu muito a pena. Foi bom sair da rotina e temporariamente cortar com o mesmo acordar para acordar para um novo olhar sobre a vida e sobre o mundo.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Vou fugir


Vou fugir. Apanho boleia, parto depressa. Vou-me embora. Arrumo as malas, preparo-me. Parto. Conto os dias, oriento as coisas. Apresso-me. Não sei ao que vou, mas confio. Acredito na palavra, por isso agarro na mão forte e aperto-a o quanto posso. Olho cuidadosamente e sorrio sem pensar. Este meu sorriso que não se canso de se rasgar, este meu melhor amigo que contagia quem por ele se deixa tocar. A oportunidade desta viagem foi única, mas sofrida. Para que o amanhã fosse mais leve, teve o hoje de ser mais pesado. Reconheço-o, admiro-o. Vou contente porque vou com quem quero, porque vou leve e desafogada. Vou na esperança de encontrar um outro lado da vida raras vezes visitado e, talvez por isso, muito apreciado. Comigo vão também as boas recordações do hoje, o essencial depois do dia filtrado. Ficam muitas coisas e coisas boas: as minhas crianças, os abraços apertados que demos, os beijos com sabor a iogurte de morango; os meus adultos, as risadas descontraídas, as brincadeiras apropriadas; os meus colegas e a graça de termos ao nosso lado quem fale a mesma língua que nós, quem nos compreenda.
- Por que te ris de mim?
- Já te disse que não me rio de ti. Apenas sorrio para ti.
Quando menos esperarem estarei de volta, inevitavelmente tocada pela minha fuga.