quarta-feira, dezembro 05, 2007

Gestos


Há gestos falantes, marcados segredos que acabam em suspiros mansos. São calados desejos, minuciosamente pensados, mas raramente denunciados. Os trambolhões esquecidos já não nos visitam e, se o fazem, é às escondidas, na calada da noite, onde todos se abandonaram ao relaxe do corpo, ao descanso da mente. A timidez dos gestos revela a genuidade dos corações, a gratuidade dos passos, a frontalidade dos amantes. Quem ama só quer bem e, por isso, entrega ao outro tudo o que pode, marca a diferença de entre os comuns mortais porque ambos estão marcados pelo que de melhor há no mundo e são privilegiados porque se encontraram na hora certa, no sítio certo, na altura certa das suas vidas. As poucas coincidências e os nulos acasos da vida, que apesar de tudo por vezes nos tenta fazer crer que sim, que existem, que fazem parte do percurso, preparam-nos para o mais farto dos banquetes, o mais doce dos manjares, mas somente no dia em que estivermos preparados para o comermos e o apreciarmos como ele merece. Até lá trilhamos os caminhos tropeçados, sobrevivemos às areias movediças, deslizamos por pantanos lamacentos. Mas no final da caminhada vemo-nos sujos e mal cheirosos. É aí que nos cai sobre a testa a chuva intensa, mas revitalizadora que culmina num raiar de sol abrasador que nos seca num ápice e nos perfuma a primavera. Quando abrimos os olhos temos uma flor que nos é entregue com um sorriso. Lentamente estendemos a mão, ainda a medo, para a acolher e abrimos o coração para o der e vier.

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