Há gestos falantes, marcados segredos que acabam em suspiros mansos. São calados desejos, minuciosamente pensados, mas raramente denunciados. Os trambolhões esquecidos já não nos visitam e, se o fazem, é às escondidas, na calada da noite, onde todos se abandonaram ao relaxe do corpo, ao descanso da mente. A timidez dos gestos revela a genuidade dos corações, a gratuidade dos passos, a frontalidade dos amantes. Quem ama só quer bem e, por isso, entrega ao outro tudo o que pode, marca a diferença de entre os comuns mortais porque ambos estão marcados pelo que de melhor há no mundo e são privilegiados porque se encontraram na hora certa, no sítio certo, na altura certa das suas vidas. As poucas coincidências e os nulos acasos da vida, que apesar de tudo por vezes nos tenta fazer crer que sim, que existem, que fazem parte do percurso, preparam-nos para o mais farto dos banquetes, o mais doce dos manjares, mas somente no dia em que estivermos preparados para o comermos e o apreciarmos como ele merece. Até lá trilhamos os caminhos tropeçados, sobrevivemos às areias movediças, deslizamos por pantanos lamacentos. Mas no final da caminhada vemo-nos sujos e mal cheirosos. É aí que nos cai sobre a testa a chuva intensa, mas revitalizadora que culmina num raiar de sol abrasador que nos seca num ápice e nos perfuma a primavera. Quando abrimos os olhos temos uma flor que nos é entregue com um sorriso. Lentamente estendemos a mão, ainda a medo, para a acolher e abrimos o coração para o der e vier.
quarta-feira, dezembro 05, 2007
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