sexta-feira, dezembro 28, 2007

Retratos II


As fotografias imortalizam momentos. Nelas impedimos que a ideia de que tudo é efémero e que acaba por cair no esquecimento seja verdade. As caras mantêm-se jovens, bonitas, os sorrisos não abdicam de ficarem estampados nem por nada, os olhares brilhantes contagiam-nos quando os revemos. Hoje com a fotografia digital enchemos cartões, cds, dvds com estes instantes da vida. Tiramos centenas de fotografias de todas as maneiras e feitios à procura daquela que nos tocará de uma maneira especial e que achemos seja merecedora de uma moldura, mereça sair da máquina, do cd que a prende, do cartão que a atrofia e possa respirar no mundo dos vivos, no mundo dos que para ela todos os dias olharão porque ela fará questão de marcar a sua presença no nosso quotidiano. Nessa troca de olhares entre a fotografia e aquele que por ela se cruzou dão-se uns milésimos de segundo de silêncio e contemplação que só a eles pertence. As imagens que passam como flashs sintetizam o essencial. Terminado este momento com um sorriso nada forçado, cada um segue com a sua vida, sabendo que no final do dia voltarão a cruzar-se. É bom deixarmo-nos encantar por aquela caixinha mágica que nos agarra sempre que quisermos e agarrará os que nos são mais queridos. Dias, meses, anos, décadas mais tarde nada é demais, tudo parece pouco para nos ajudar a retratar o que já vivemos com a máxima fidelidade, quem o partilhou connosco, como éramos, como nos vestíamos, como nos penteávamos, a história que estava por detrás de cada ruga, de cada sorriso, de cara cicatriz. É impossível não olharmos para as fotografias mais antigas sem nos vermos invadidos por tudo o que já fomos. Algumas trarão algum sofrimento, alguma tristeza, mas não deixam de ser marcos que fizeram de nós o que somos actualmente. Estamos, vivemos marcados por elas. Uma fotografia, um retrato: uma compactada miniatura de sentimentos e o tornarmos imortal o que julgamos fugaz.

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