quarta-feira, novembro 28, 2007

O MEU MARIDO



A expressão o meu marido, se analisada com cuidado, não só daria para uma excelente reflexão, como bem trabalhadinha até para uma qualquer tese sobre o assunto. A frase é a mesma, não muda, não tem de mudar, nem tem como mudar. Muda, e muito, é a entoação com que esta é proferida, as vezes em que é feita, os motivos que a evocam e o público alvo. Com naturalidade numa conversa trazemos aqueles que nos são mais queridos por variadíssimas razões, temos prazer e orgulho em falarmos sobre eles. A diferença reside em dizer-se no outro dia o meu marido chegou atrasado ao emprego ou o meu marido ligou-me para saber se eu estava bem porque passei mal a noite e dizer-se no outro dia O MEU MARIDO ligou-me porque passei mal a noite, ou ainda, O mEu MaRiDo fez isto e aquilo, o MeU mArIdO, o MEU marido, O meu MARIDO e por aí em diante. Nalguns casos mais gritantes os olhares femininos cruzam-se de imediato, nalgum tom de crítica, muito subtil como é costumes entre senhoras. A feliz contemplada com UM MARIDO fê-lo saber, a alto e bom som, para que não restassem dúvidas entre as presentes, as que por acaso passavam, as que estavam no corredor e as do andar de cima. Aquela senhora era uma premiada, foi importante sabê-lo.

Outros casos, não menos interessantes, são os daquelas que, por alguma razão, não viram oficializado o seu enlace e, por isso, estão juntas, amantizadas, em união de facto, ainda em fase de namoro prolongado, mas por acaso já a partilhar a vida. São várias as formas existentes para descrever a situação actual do casal, eu gosto particularmente do sou junta, não sou casada. Uma vez não tendo sido proferidas sobre as suas cabeças as palavras declaro-vos marido e mulher, principalmente a mulher, vê-se um bocado às aranhas quando se quer referir à sua cara metade. Ele não é meu marido porque não casámos, defendem-se algumas quando se nos escapa um então, como está o teu marido? Nestes casos são também curiosos os nomes por que são chamados: o meu companheiro, o meu namorado, o meu parceiro, qualquer coisa menos o meu marido.

Os homens para além de não complicarem tanto por Natureza neste tipo de coisas, têm a vida duplamente facilitada porque a minha mulher para aqui, a minha mulher para ali não ofende a ninguém e está o assunto resolvido. E é muito interessante porque não me recordo de nenhum episódio em que A MINHA MULHER alguma vez tenha sido efectivamente dito, com a intenção com que uma mulher o pode dizer.

São, de facto, dois mundos muito diferentes nalgumas coisas. Acho que parceiro, marido ou namorado importa é que as pessoas sejam felizes. Se se encontraram, que façam por perpectuar os compromissos que assumiram, com lealdade e, também, um pouco de humildade.

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