quinta-feira, dezembro 20, 2007

Enquanto não há amanhã

Esta noite fui visitado por uma fada madrinha que me disse que a mulher ideal existe. Fiquei estupefacto a olhar para ela, não a queria julgar, muito menos queria duvidar da sua palavra, mas as coisas têm de ser esclarecidas. Em criança, era rapaz traquina e pouco ligava às miúdas porque o homem aranha parecia-me bem mais interessante que aquelas brincadeiras irritantes às famílias, mas se alguém me perguntasse no meu íntimo se acreditava na mulher ideal, talvez fosse capaz de dar a mão à palmatória e assumir que sim. Uns anos mais tarde, já me dedicava aos amassos atrás dos pavilhões e percebi que afinal estas coisas das raparigas são mais complexas que aquilo que eu inicialmente julgava. Eram umas queridas e eu adorava estar ali com a anatomia feminina toda nas minhas mãos, eram autênticas aulas práticas das ciências da natureza, aprendi imenso, mas depois metiam-se sentimentos, ciúmes, confusões, amigas e até ser capaz de gerir estas baralhações todas ainda percorri um caminho algo doloroso. Agora que já estava convencido da imperfeição humana, da impossibilidade de me cruzar com alguém especial, acima da média, detentor de todas as verdades e qualidades do mundo, vem esta personagem pôr tudo em causa outra vez? Tive vontade de me virar a ela dizer-lhe uma meia dúzia de coisas menos afáveis, na esperança de que desmentisse o que havia afirmado e me deixasse em paz. Não o fiz, preferi pedir-lhe explicações, não fosse ela ter razão e eu até ter acesso a esta pessoa. Mexeu os cordelinhos e mostrou-me através de imagens passageiras quem esta mulher era, mas o seu rosto nunca me aparecia definido na cabeça. Queria vê-la para podê-la reconhecer na rua de imediato e agarra-la para sempre. Isso nunca aconteceu. Levantei-me e bati-lhe, estava irritado com aquela situação e já me sentia um palhaço nas suas mãos. Ela olhou-me com tristeza e desapareceu. Não fiquei nada satisfeito com a minha atitude, mas às vezes não consigo controlar a minha impulsividade, reajo sem pensar. Nesse preciso momento vieram-me à ideia todas as raparigas que já tinham passado pela minha vida e que, por alguma razão, também elas desapareceram, como fui eu que tratei de as pôr bem longe só porque sim e porque não. Algumas bem o mereceram, serviram para o que tinham a servir, foi bom, obrigado, mas agora quero-as o mais longe possível. Ocorreu-me a terrível ideia de já ter sido visitado por esta pessoa e de a ter deixado escapar. Nesse instante sou novamente visitado por esta fada irritante, vinha com um saco de gelo na cara e com algum mau aspecto. Olhei-a de lado, senti alguma pena por assistir àquele triste espectáculo, mas fiz questão de mostrar o meu desprezo. Só me disse ainda vais a tempo e volta a sumir-se no infinito. Acordei sozinho e lavado em lágrimas, como só podia estar...

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