quarta-feira, janeiro 02, 2008

Em carta



Olá, como estás? A carta que escrevo é para ti. É para quem agarrou na minha mão e me ensinou como se escrevem as primeiras palavras de amor com lápis de carvão. Depois de algumas horas de prática ajudaste-me a escrever a caneta. Escrevi o teu nome, escrevi o meu, progressivamente comecei a escrever todas as palavras do mundo que me faziam lembrar o teu perfume. Eu ensinei-te a desenhar. Tinhas medo, mas peguei na tua mão, entreguei-te os meus lápis de cera e suavemente fomos traçando aqui e ali até o teu desenho começar a ganhar forma. Dizias sempre não ter jeito, mas quem visse as tuas obras de arte nunca o diria. Pareces um mestre. Em pouco tempo quiseste-te aventurar às canetas de feltro. Os bonecos ficaram com cores mais fortes, qualquer pessoa ao longe recebia a mensagem que querias transmitir. Foi uma bonita caminhada a nossa. Já me aventuro a escrever a caneta sozinha e tu pegas nos meus escritos e ilustras o que escrevi. O trabalho que desenvolvemos fica digno de publicação. Não é isso que desejamos, não ambicionamos que o que criamos corra mundo fora, de mão em mão, não nos importamos que tudo morra em nós, entre nós. Não são segredos, são intimidades, são confianças: é a nossa vida que todos os dias escreve mais uma página, anexa mais um desenho e vira para o dia seguinte. Assim vamos contando o tempo que passa e, quando a saudade nos aperta, depressa desfolhamos o nosso livro e encontramos o que procuramos. Assim nada passará despercebido ou cairá no esquecimento. É um trabalho que não custa, não nos faz perder tempo. A carta que escrevo é para ti. Não sei se já o tinha feito, julgo que não. Mas nunca nada é tarde demais. Toma, recebe-a, junta-a às folhas que vais guardando dentro do teu coração.

Sem comentários: