domingo, outubro 21, 2007

Qualidades e defeitos


Esta semana estava com os meus alunos e tinha de os levar à reflexão sobre os defeitos e as qualidades. Dividimos o quadro a meio e conforme lhes vinham à ideia íamos distribuindo as características ora numa, ora noutra coluna.
- Mentiroso, ladrão, invejoso, orgulhoso, impulsivo.
Aos poucos a coluna dos defeitos atingiu uma proporção significativa. Achei o episódio curioso, não pude deixar de os chamar a atenção para aquilo.
- Meus amigos, temos dez defeitos e três qualidades. Não acham isto interessante? - isto é o reflexo da nossa sociedade. Nós somos assim: capazes de encontrar uma infinidade de defeitos, incapazes de muitas vezes admitirmos as qualidades que apreciamos nos outros. Na hora da discórdia saem-nos pela boca fora tudo o que pensamos de mal, tudo o que odiamos naquela pessoa. Raras vezes somos capazes de a procurar para lhe dizermos como é inteligente, aplicada ou trabalhadora. Humilde, carinhosa ou admirável. Pior ainda quando nos referiamos às pessoas com quem vivemos todos os dias, com quem temos de partilhar este que é o mistério da vida. A rotina e o hábito de coabitarmos impedem-nos de termos gestos e palavras de apreço, mas levam-nos com facilidade ao insulto e ao ataque quando, por alguma razão, alguma coisa mal. - Todos os meus alunos olhavam-me firmes e fixos. Todos abanavam a cabeça, como que a manifestar que concordavam comigo, que este é o retrato das suas vidas, é o filme que vivem e sabem de cór. Eu não falava necessariamente deles, deixei-me levar pelo fenómeno que tinha à minha frente, via-os enumerar defeitos e quando eu pedia qualidades parece que pedia uma coisa difícil, parece que era estranho estar a pedir uma lista de coisas boas, de coisas das quais nos deveríamos orgulhar.

Não sei que diga. De facto não sei. A impressão que tenho é a de que as pessoas têm vergonha de expressar o que sentem, têm medo de parecerem ridículas porque admitem que amam, porque reconhecem que a pessoa tal tem esta qualidade, porque elogiam um filho, uma esposa, um companheiro. Mas na hora do disparate não nos poupamos ao insulto, cegos pelo momento, dizemos o que queremos e o que não queremos.

É a história de tantas vidas.

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