terça-feira, setembro 25, 2007

Errar


É na derrota que a maior parte das coisas se passa. No falhanço. Quando se erra as questões são maiores, vêem-se coisas outrora adormecidas. É no erro que se descobre a fragilidade das coisas e se põe na balança o que é mais importante. É no erro que aprendo a rir de mim próprio.

David Fonseca

Concordo com ele nesta reflexão, mas até sermos capazes de nos rir-nos de nós próprios vai uma aprendizagem, uma auto-análise enorme. Sempre de nos deparamos com um falhanço temos muita dificuldade em aceitar que tenha sido fruto das nossas próprias mãos, mesmo quando desconhecemos a razão. Passando-se connosco, certamente teremos uma quota parte de culpa, consciente ou inconsciente, mais às claras ou mais disfarçada. Na maioria dos casos tememos confrontar-nos com o outro, receamos os juízos que fará acerca da nossa falha, a consequência que isto terá na forma como nos olha, como poderá alterar a imagem que já tem nossa e que tanto custou a construir. Só no dia em que realmente nos conhecemos, sabemos o que somos e o que valemos somos capazes de rir do trambolhão que demos, do açucar que substituiu o sal no guizado ou do toque no poste quando estacionávamos o carro. Um pouco mais que uma questão de atitude, é o resultado de uma caminhada que não se faz só. Estamos rodeados de pessoas e é graças a elas, que nem sempre nos apontarão somente os bonitos olhos verdes, encantadores que a mãe Natureza se lembrou de nos dar, que seremos capazes de ver aquilo que sozinhos não conseguimos. Talvez nos farão ver como podemos transformar o cinzento do céu, num azul brilhante e as nuvens carregadas, empurrá-las com um sopro de tal forma forte que se dissipam para sempre.

Palavras leva-as o vento. Elas de pouco ou nada servem para curar um coração ferido, amargo, rijo como pedra. Errar, todos erramos, não há ninguém que não carregue a lembrança de um acto que falhou, de um projecto que ficou a meio, de um tropeço no caminho. Falava hoje com um amigo que não conseguiu o lugar perto de casa que desejava. Dizia-me ele por alguma razão o meu lugar não era aqui, só tenho de esperar. Tenho de ocupar apenas o lugar que me pertence e desta forma fica pelo segundo ano a 150 km de casa. Falhou o pedido que fez, mas não desanimou. É porque não tinha de ser por ali. Compreendi-o como ninguém. Avista-se outro ano louco, difícil, marcado pela saudade e a despesa de duas casas. Uma vida solteira de trabalho para fazer face às rendas e contas. Mas um sorriso, que ainda só vi estampado no rosto daqueles que no fracasso encontram uma razão e são capazes de brincar com a situação.

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