domingo, abril 01, 2007

Nas teias da mentira


Hoje é-nos permitida uma mentirita inofensiva. Um ano inteiro danados para que este dia chegue e possamos encavar uma meia dúzia com aquilo que nos passar pela carola, sem que alguém nos leve a mal.
Já perdi algum tempo da minha vida a pensar na mentira, na razão de recorrermos tantas e tantas vezes a uma coisa (aparentemente e) à partida condenável. Danamos a cabeça das nossas criancinhas quando as apanhamos num flagrante plágio ao Pinóquio e somos os primeiros a pedir-lhes que ao telefone neguem a presença do pai ou da mãe quando o telefonema não nos interessa. Mas que coerência é a nossa? Que dupla educação é esta onde lhes pedimos que olhem para o que dizemos em vez de olharem para o que fazemos?

Estes são os nossos primeiros passos, aqueles que nos são mais queridos iniciam-nos nesta arte abstracta que é a arte do engano. Cedo percebemos que a mentira é uma coisa muito feia, mas à qual temos de recorrer para nos livrarmos daquilo que não interessa e/ou para fugirmos às nossas responsabilidades. Mais velhinhos dizemos ao professor que o cão comeu o trabalho de casa e desta forma vamos aguçando o nosso engenho.

Algumas estatísticas indicam que 60% das pessoas mentem no seu dia-a-dia em assuntos absolutamente banais. A verdade no meio disto tudo é que é a mentira pode ser verdadeiramente cómoda. Dizemos o PC ao invés de nos metermos em alhadas maiores.

- Esse penteado fica-te a matar! Estás linda com essas botas.

E só nos ocorrem coisas do género:

- Mas o que é que te passou pela ideia? Quem mais te anda a enganar para além de mim?

Muitas vezes sabemos que estamos a ser aldrabados, até porque nós próprios somos os primeiros a cair naquela tentação, só que o que nos dizem é tão agradável, que ali permanecemos contentinhos da vida naquela concha aveludada que nos protege de tudo o que nos parece ruim. Não passa de uma capa fina e transparente que desaparece no primeiro rasgo de verdade.

Contudo, há situações onde parece que não há espaço para a verdade, mesmo que a tragamos a todo o custo.
É preferível uma mentira agradável, a uma verdade dolorosa.
Aqui confesso: para além de não compreender, não sei o que fazer.

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