sábado, março 03, 2007

Nos pés de uma bailarina


Nos pés de uma bailarina conta-se uma história, vive-se um enredo. Não se caminha, flutua-se. Com uma espécie de olhar sedutor e irresistível eles convidam-nos para a sua dança. Enfeitiçados, abraçamos o desafio de os acompanharmos. Seguimo-los como crianças numa fidelidade inocente. Desejamos assim pairar, cheios da sua tranquilidade e leveza. Por momentos abandonamos a passada agreste do nosso dia-a-dia, as modas desconfortáveis e acreditamos ser possível voar assim. Parece-nos viável que também os nossos pés um dia poderão acompanhar o nosso corpo harmoniosamente como numa música, onde cada instrumento desempenha o seu papel na perfeição. Aguçamos o desejo de não sermos desajeitados e descoordenados. Eles continuam a deslizar à nossa frente e só os arrepios que nos provocam são capazes de nos trazer de volta à nossa humanidade. Contudo, depressa nos deixamos embalar pela sua magia que nos envolve e nos traz de volta ao seu argumento.
Correm-se as cortinas, arrefece a sala. Bailarina. Procuras o espelho que te viu maquilhar e passas uma toalha pelo rosto. Tiras as sapatilhas, olhas os teus pés calejados. Neles revês a tua história, aquela que, definitivamente, desejas não dar a conhecer.

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